Uma lição importante da eleição americana para o Brasil: entendendo por que a direita provavelmente vencerá em 2026.

Antes de tudo, é importante ressaltar duas coisas:

  1. A discussão sobre a eleição presidencial é importante neste momento porque existe um desgaste da imagem do nosso atual presidente. Se é um problema de comunicação ou não, acredito que seja irrelevante neste momento.
  2. A direita provavelmente vencerá, mas ninguém tem uma bola de cristal. No entanto, essa assertiva tem como base o fenômeno global de desgaste dos candidatos da situação, o cenário político brasileiro e os indícios levantados com base nas recentes pesquisas de opinião que demonstram um desgaste agudo do atual governo.

Tendo essas premissas estabelecidas, eu ofereço um argumento bastante simples: lá nos Estados Unidos ocorreu um fenômeno que pode ser resumido como o "teste de fogo" da candidata democrática Kamala Harris por parte dos eleitores que eram contrários ao Donald Trump, mas o mesmo não aconteceu com ele.

Esse teste de fogo pode ser definido, brevemente, como um conjunto de posições que determinados grupos esperam de um candidato para demonstrar seu apoio.

Lá, observamos que certos grupos ficaram absolutamente insatisfeitos com a posição de Harris (e Biden) sobre Israel, imigração, armas e mudanças climáticas. Diante da impossibilidade de terem um candidato que mantivesse exatamente as mesmas crenças que aqueles grupos exigiam, de forma orgânica ou organizada eles se colocaram contrários ou neutros à candidatura democrática, ainda que o candidato republicano inquestionavelmente tivesse posturas claras que os prejudicariam no caso de sua eleição.

Um dos argumentos foi: não existe diferença entre retrocesso e pouco progresso, suas demandas precisavam ser atendidas completamente.

Ocorre que candidatos que possuem algum tipo de compromisso com a verdade ou que precisam equilibrar diferentes coalizões jamais vão conseguir passar em todos os testes de fogo. Isso é especialmente verdade em países com grandes contradições que dividem a população, o que é o caso do Brasil.

O mesmo não foi observado em relação a Donald Trump: seus eleitores apenas queriam a derrota do governo e a vitória de seu líder, que durante seus anos de vida política jamais teve compromisso algum com a verdade e demonstrou uma incrível capacidade de convencer seus eleitores a apoiar causas que certamente iriam lhes prejudicar (muitos aqui conhecem o subreddit r/LeopardsAteMyFace).

Também não será observado na direita brasileira. Eles irão escolher um candidato e, ainda que haja uma divisão num primeiro momento, graças ao nosso sistema de eleição em dois turnos, rapidamente consolidarão o apoio em torno de uma única figura, independente de suas propostas (ou ausência delas), visões de mundo, projeto, etc. Pois o único objetivo a ser alcançado é derrotar a esquerda à qualquer custo.

Enquanto isso, nós da esquerda vamos nos dividir como sempre e impor testes de fogo impossíveis, como equilibrar o apoio à legítima causa LGBTQIAPN+ com a (con)tradição cristã brasileira, direitos humanos e combate a criminalidade, corrupção e governabilidade, mercado e desenvolvimento social, etc.

No final das contas, teremos no segundo turno um(a) candidato(a) desgastado(a), com uma coalizão frágil e amarrado(a) a contradições insuperáveis que infelizmente feriram o atual presidente ao ponto de estamos à dois anos da eleição sem esperanças de que ocorra alguma coisa que mude este cenário, portanto, tomados por uma mistura de desilusão e letargia movidos pelos constantes ciclos de pautas negativas.

Tudo isso só será pior se este candidato for da situação, que será obrigado a defender medidas impopulares e o fracasso em entregar as (poucas e simbólicas) promessas de campanha que realmente importavam aos eleitores.

Neste cenário, eu acho muito difícil acreditar numa reversão do estado atual de coisas, mas os convido a discutir meus argumentos.