Aos 31 de uma vida frustrada
Com 31 anos percebi que nunca trabalhei de fato o que eu gostava, estudei moda e para pagar a faculdade me submeti em qualquer tipo de emprego pela grana para custear meus estudos sozinha.
Aos 7 eu comecei a fazer Ballet clássico, isso eu amava!
Refletindo hoje eu entendi que isso sim seria algo que eu faria com amor, mais até do que algo relacionado a moda, é inacreditável chegar nesse ponto somente aos 31, até chegar aqui achava que meu dia de felicidade no emprego ia chegar, quando na verdade meu emprego dos sonho já veio e foi embora.
Se eu tivesse passado na escola de bailado de São Paulo, se não fosse aqueles 0,5 pontos que me fizeram reprovar.
Na época eu era boa pra minha idade, mas mesmo assim não tive um incentivo, ou conhecimento dos que estavam à minha volta para fazer isso. Se ao menos eu estivesse em uma escola que se dedicasse ou que os adultos tivesse o mínimo de conhecimento pra entender que haviam possibilidades para me dar uns empurrões e fazer parte de outras escolas e migrar pra coisas måis sérias, no final no fundo eu não queria que fosse somente um hobbie, eu queria que fosse do Ballet meu futuro, minha profissão, consequentemente eu não estaria hoje no Brasil ou sim, mas estaria dançando e ganhando por isso, claro chega uma certa idade e eu não poderia mais usar meu corpo, mas ao menos eu teria vivido do que eu gosto de verdade, teria feito uma vida assim, teria me tornado uma professora, pois eu adoro ensinar.
Aos 8 anos foi a tentativa do municial, mas minha mãe já estava colocando algumas barreiras, do tipo, tem que pegar metrô pra chegar, aqui é perigoso, a escola fica no vale do Anhangabaú até hoje. Sim, era perigoso e íamos gastar com transporte, mas pelo menos eu ia ter um futuro mais feliz e gratificante.
Na escola que eu fazia as aulas num bairro de classe média baixa na Zona Leste, lembro de meus pais e minha madrinha gastar rios de dinheiros, para pagar os figurinos e aluguel do teatro que a escola cobrava, que na verdade nem era uma escola de balé de fato, era uma academia, que tinha uma sala para dança.
Quando não passei aos 8 anos minha mãe quis até saber o porquê, fomos ate a diretora na época, e ela disse que foi minha postura, aquela nota de 9,5 me deixou tão depressiva na época que acredito que essa Maria de 8 anos deprimida carrega até hoje. No ano seguinte para uma nova tentativa eu teria de estar muito mais avançada, claramente a academia que eu fazia aula não me daria esse suporte.
Eu sabia que não passaria novamente, não tentei.
Ouvi que era panelinha, que só entrava quem conhecia alguém lá dentro e bla bla bla, tentando por culpa em alguma falcatrua que nem existia, foi negligência mesmo, falta de comprometimento.
Na época, não tinha esse acesso a vídeos, de youtube, instagram onde você pode olhar outras bailarinas, ficar por dentro e buscar por tudo, se ao menos eu tivesse em quem me inspirar...
Acredito mesmo nessa coisa de estar no lugar errado na hora errada.
Um professor que tive foi disparado o melhor de todos... eu cheguei até ele muito tarde, ele ficava na mooca, e eu só descobri quando fui morar no mesmo bairro.
Lembro de ele ter vários DVDs de bailados diferentes que eu nunca tinha visto ou ouvido falar, porque a academia que eu fazia nunca me mostrou aquilo?
Estou culpando onde eu aprendi a dançar...
Em casa eu não tinha acesso a aquilo, meus pais também não, mais uma vez eu estava no lugar errado na hora errada.
Se pelo menos eu tivesse acesso a aquilo eu ia saber que tinha um mundo enorme lá fora, de festivais e concursos, workshops de dança pra chegar até uma grande escola de bailado e ter me aperfeiçoado e estar em uma grande companhia hoje.
Poder voltar no tempo seria uma ótima solução...
No entanto, um amigo me falou: E se nessa sua vida paralela, você tivesse quebrado o pé? A única coisa que você sabe fazer era dançar....e agora?
Fiquei pensando nisso, pois em 2019 eu fui a uma festa e torci meu tornozelo e fiquei 6 meses com ele ruim, nunca mais foi o mesmo. Tem coisas que não mudam, igual no filme efeito borboleta. Alguma coisa vai acontecer para seu destino ser da fato o que ele é! Não iria ser diferente.... será?