"A economia brasileira não faz sentido"

A economia brasileira não faz sentido. Ponto. É um espetáculo de absurdos, onde o Banco Central empunha a SELIC como Excalibur, mas, em vez de salvar o reino, enfia a espada no peito do trabalhador.

Recentemente o Banco Central decidiu subir a SELIC pra 13,25%. Isso nos deixa a apenas 1% abaixo dos 14,25% de 2015, quando a inflação atingiu 10,67% — ou seja, 4,17 p.p acima do teto da meta na época (6,5%).

Já em 2024, a inflação fechou em 4,83%, um peidinho de 0,33 p.p acima do teto da meta.

Pensem no absurdo: em 2015, o desvio em relação ao teto era praticamente a inflação inteira do ano de 2024 (4,17% vs 4,83%), ou seja, 12x maior que o atual (4,17% vs 0,33%).

Na prática, o Banco Central tá tratando uma unha encravada com quimioterapia. E o paciente? O paciente é você, seu Zé Ruela, que paga 240% de juros no cartão de crédito.

 

Traduzindo em números que até um rentista entende:

-2015: Inflação 10,67% (teto 6,5%), desvio de 4,17 – 64% a mais que o próprio teto! (tipo levar um tijolo na cabeça).

-2024: Inflação 4,83% (teto 4,5%), só 0,33 – 7% acima. (tipo levar uma bolinha de papel).

Isso significa que hoje, o BC tá aplicando 14,5x mais “remédio” de SELIC por ponto de inflação excedente do que em 2015. Se em 2015 a dose foi exagerada, hoje é crime de responsabilidade fiscal.

O discurso do mercado pra (tentar cometer crimes sem sofrer consequências) justificar essa maluquice é o tal do "risco fiscal", porém as contas primárias do governo (receitas menos despesas, sem contar juros) tão relativamente equilibradas, ó:

Despesas primárias (% do PIB)

2015: 19,4%.

2024: 19,3%.

Logo, não é o gasto que tá destruindo o caixa público, e sim os juros. A dívida pública explodiu, e a culpa é da própria Selic alta. Veja só:

Dívida Pública Federal:

-2015: R$ 2,79 trilhões | Juros pagos: R$ 367,67 bilhões.

-2024: R$ 8,404 trilhões | Juros pagos: R$ 950,42 bilhões — aumento real de 160%.

70-80% da dívida pública é gerada pelos próprios juros altos. Cada aumento de 1% na SELIC custa R$ 60 bilhões por ano em juros aos cofres públicos.

Contradição central: Juros altos pioram o problema fiscal que o mercado diz querer resolver.

Se o BC empurrar os 3% de SELIC que foi iniciado em dezembro de 2024, serão R$ 180 bilhões por ano que serão roubados em juros – quase 3x o valor dos cortes feitos pelo Haddad em 2024 (R$ 70 bilhões por ano).

E o pior? Toda essa loucura começou porque o mercado queria um corte de gastos do governo em nome de "responsabilidade fiscal" – algo na casa dos R$ 50 bilhões. O governo atendeu, mas isso só serviu pra alimentar ainda mais a fome dos especuladores.

Cortam R$ 70 bilhões do orçamento pra transferir R$ 180 bilhões aos rentistas. Isso não é "responsabilidade fiscal", é uma transferência massiva de renda dos mais pobres pros mais ricos (0,01%).

Fato objetivo: O aumento de juros gera mais gastos públicos do que os cortes resolvem.

Aumentar a Selic não abaixa o preço do café, da carne ou do dólar. Juros altos não resolvem os problemas que dizem combater. Na prática eles reduzem investimentos, travam o crescimento do país e drenam recursos de áreas essenciais.

No fundo, a lógica é sempre a mesma: tirar do orçamento do pobre pra encher ainda mais o bolso do rico.

 

Pra tentar criar caos, o mercado até chegou prever um rombo fiscal de pelo menos R$ 82 bilhões pra 2024, e assim como erraram feio ao projetar um PIB de 1,5% (veio 3.5%), também deram com os burros n’água ao projetar esse rombo.

No fim, o resultado foi de apenas R$ 11 bi (0,09%). Zero supresas vindo da galera que erra 95% das vezes.

Pra vocês entenderem o nível, é mais fácil ganhar no jogo do tigrinho do que o mercado acertar uma previsão. Mas isso não impede o Banco Central de basear suas políticas no que o mercado diz via Boletim Focus, o que é, no mínimo, desesperador.

O custo real da SELIC alta

Em 2024, a SELIC alta já custou mais de R$ 950 bilhões em juros – dinheiro suficiente pra:

-Construir 8 milhões de casas populares (R$ 950 bilhões).

-Fornecer Uber gratuito por 1 ano pra toda a população (R$ 150 bilhões)

-Cobrir o Brasil com satélites e fornecer Internet Gratuita (~R$ 80 bilhões).

-Ticket-alimentação de R$ 325/mês pra todos os brasileiros (R$ 950 bilhões).

-Construção de um trem-bala interligando boa parte do país. (R$ 950 bilhões).

-Comprar o Twitter 3 vezes.

Ou seja, estamos queimando o futuro do país pra enriquecer mais ainda meia dúzia de banqueiros (Itaú, Bradesco, BTG, Santander, Safra, BlackRock, Vanguard, UBS, etc).

Brasil o paraíso dos agiotas sapateners

Nosso spread bancário (a diferença entre o que o banco paga no dinheiro e o que ele cobra ao emprestar) já bateu 42% em 2016 — campeão mundial!

Pra justificar o roubo, dizem que o brasileiro é ''caloteiro'', mas a inadimplência anda pelos 3,1% (dados do BC 2024) — praticamente igual à dos EUA e Europa (1,8%-2,5%), onde os juros são 20x menores.

Aí vem a pergunta mágica: como alguém vai conseguir pagar empréstimo com 60% de juros ao ano, ou 240% no cartão, sem virar estatística de devedor?

É claro que a inadimplência sobe quando se cobram essas barbaridades. Mas, mesmo assim, tá em 3,1% — surpreendentemente baixo pra um país que banca juros lunáticos.

É tão baixo que os bancos daqui vivem batendo recordes de lucro, dominam a bolsa e figuram entre as maiores empresas do mundo. Mas vai perguntar pra um banqueiro como tão os negócios...

Economistas neoliberais? E a inflação?

Por que 4 bancos controlam 80% do mercado, cobram juros criminosos e ninguém questiona a inflação que isso gera? Essa é a pergunta que faço aos economistas: como um cartel de agiotas bancários consegue manter taxas estratosféricas por tanto tempo sem que isso vire uma preocupação inflacionária?

Afinal, inflação não é só demanda, é também custo. A maioria das empresas é alavancada e depende de crédito pra operar. Quando a SELIC sobe, os bancos repassam esse aumento aos clientes, junto com um aumento nos próprios lucros.

Resultado? Custos mais altos pras empresas, que repassam isso aos consumidores, gerando inflação.

Juros altos → custo do crédito sobe → empresas repassam preços → inflação acelera.

Exemplo: A Selic a 12,25% elevou o custo do frete em 7% (CNT, 2024), pressionando diretamente o preço dos alimentos.

Por trás da narrativa de inflação, o que vemos são balanços trimestrais de grandes corporações e bancos batendo recordes de lucros. Enquanto isso, o trabalhador paga mais pela comida, pelo transporte e pela energia.

A inflação, nesse caso, não é só um reflexo da economia. É uma ferramenta. Ela permite que grandes corporações e bancos reestruturem o mercado a seu favor. Aumentar preços sob a justificativa de inflação se torna um mecanismo de redistribuição de riqueza:

-Do consumidor para o topo.

-Do salário para o lucro do banqueiro.

E o mais perverso? No Brasil, a inflação lucro-puxada é quase invisível nos debates econômicos.

A ortodoxia prefere falar de "inflação monetária" ou "inflação de demanda", como se o problema fosse culpa de "gente comprando demais" ou de "gastos irresponsáveis". Mas, na prática, os verdadeiros culpados são os lucros estratosféricos dos bancos e grandes corporações.

Esse ciclo vicioso não é um acidente. É um mecanismo projetado pra manter o país refém, garantindo que o setor financeiro lucre em qualquer cenário. Por isso, metas de inflação artificialmente baixas e nunca atingidas são a justificativa perfeita.

Meta de inflação pra gringo ver

O BC insiste em perseguir uma meta de inflação de 3%... Sabe quantas vezes isso aconteceu em 30 anos? 3 vezes → ou seja, o Brasil tem mais chance de ganhar a Copa do que cumprir a meta de inflação.

Por quê? Porque a meta é uma armadilha:

-Histórico brasileiro: A inflação média de 2002 a 2024 foi de 5,78%.

A redução artificial e contínua da meta pra 3% ignora a estrutura da economia brasileira e as reais causas da inflação. Em vez de enfrentar os fatores estruturais, o Banco Central recorre à SELIC, que apenas agrava o problema.

Tudo isso porque o Brasil tenta imitar países de primeiro mundo, como os EUA, adotando metas irreais, sem levar em conta que:

-Nos EUA: Medem inflação sem comida e gasolina (CORE Inflation) → "Ah, ovo subiu 50%? Não conta, é volatilidade!".

-No Brasil: Metemos no calculo do IPCA até tua mãe o preço das commodities → itens que a SELIC não controla. E depois choramos quando o BC sobe juros pra controlar a seca no Nordeste.

Pra se ter uma ideia, 44% da inflação de 2024 veio de alimentos, energia e combustíveis — setores imunes a juros altos.

Se usarmos as métricas dos EUA (não é pedir demais né?), e retirarmos os itens voláteis imunes a SELIC, a inflação fica em torno de ~2,72%.

Ou seja, a meta de 3% seria alcançada. Mas o objetivo nunca foi realmente atingir a meta, e sim definir metas irreais pra manter o país eternamente fora dela, justificando juros altos e os cortes em investimentos essenciais.

 

O QUE O GOVERNO PODE FAZER?
(propostas tiradas do meu cy)

1- BC Virar BC mesmo: Banco Central? Não, Banco do Cidadão! Meta dupla: Inflação E emprego, como no FED. Chega de servir só ao andar de cima.

2- Revogar a meta de inflação irrealista: Criar um Índice de Inflação Estrutural (excluindo commodities e energia volátil), com uma meta de 4% e tolerância de 2 p.p.

3- Teto pra juros: Se o agiota da esquina não pode cobrar 20%, por que o Santander pode 50%? Prisão pra spread acima de 15%!

4- Reduzir SELIC pra patamares civilizados: ~8,5%, liberando ~R$ 418 bilhões/ano pra investimentos em infraestrutura e alívio da inflação estrutural. Usar a SELIC em doses proporcionais, no máx 1.8x a inflação (ex: inflação de 4,83% → SELIC max de 8,69%). Inflação acima de 7% diminuir dose max 1,5x.

5- BNDES pra tudo: Crédito a 1,5% pra quem planta feijão, constrói casa e faz pesquisas.

6- PIX 2.0: Ampliar o Pix pra incluir microcrédito, seguros e investimentos direto na plataforma.

7- Tributação Progressiva: Taxar lucros extraordinários de bancos e grandes fortunas. Conceder isenção pra bancos que destinarem mais de 50% de seus lucros pra crédito produtivo. Isentar empresas produtivas que reinvestem seus lucros, evitando penalizar setores que contribuem para o desenvolvimento econômico.

8- Chega de mamata corporativa: Cortar 40% dos R$ 500 bi/ano em isenções fiscais. Priorizar setores que geram emprego e inovação. Empresas que recebem incentivos devem cumprir meta de emprego e meta de investimento produtivo no Brasil. Caso contrário, devolvem tudo com juros.

9- O Estado Decide a Economia, Não os Rentistas: Chega do governo refém da Faria Lima! As decisões econômicas devem servir ao povo, não ao lucro dos bancos. Boletim Focus na lata do lixo: o Banco Central só pode basear políticas em dados reais, e não em previsões furadas do mercado. Pra equilibrar o jogo, criar um Observatório Econômico Nacional – um órgão independente com projeções de universidades, institutos de pesquisa e setores produtivos.

10- Permitir que o BC compre títulos do governo diretamente garantindo financiamento de longo prazo pra setores estratégicos (infraestrutura e tecnologia).

"Enquanto você leu isso, um banqueiro comprou outro iate com o juros do seu cheque especial."